terça-feira, 10 de setembro de 2013

Recado para o dia que disse eu te amo

Você pode duvidar quando eu digo que te amo. Pode dizer que eu não amo, e tudo o que você diz, pode dizer que eu não sei o que é o amor, que não é isso que eu sinto, eu falo isso pra todas.
Os poemas sentem o tamanho desse soco. Quem sabe ao certo o que é o amor? Minha cara, talvez, só se saiba claramente determinadas coisas em situações-limite. Tua arma na minha boca, a morte na minha cara, eu saberia exatamente a quem amei. No entanto, enquanto as horas me passam, e o coração bate em compasso, deixe-me explicar, todas as vezes que disse que te amo, falei como quem suspira. Você sabe o que é um suspiro? Um suspiro se diferencia da respiração porque é possível gostar durante.
Falei que te amo exatamente como quem suspira. Falei que te amo enquanto amava, não havia o que se explicar.
Veja bem: eu suspiro enquanto suspiro, e sobre minha respiração o que eu digo é que já respirei, passou por entre a frase. Não te amo como quem respira, o próprio amar se perderia nas facilidades desse automatismo. Já basta de futuro. Te amo enquanto te amo.
O amor também é o modo como eu me abro, assim como o suspiro se faz justamente no modo como se faz. Você entende? Veja se não é assim que te aparece esse fenômeno: é um estalo, uma distração breve, havia uma respiração comum e, de súbido, encontra-se a si mesmo suspirando, e, veja lá, você já está no meio do caminho e encaminha-se ainda a uma manifestação mais espontânea, e já não é uma respiração comum, você sabe disso, algo diferente acontece, e se encaminha para o fim, e esse fim não é trágico, é só gozo. O gozo do suspiro ganha até um gemido, uma espécie de "ah..." contínuo, até que se dá conta, e surpreendentemente; eis que suspirei.
Falei que te amo num suspiro, não como quem já o tinha de pronto, não se faz planos para respirar depois, expectivas, definições, pelo seu deus!, quanto desamor. Falei que te amo, nunca por ter absoluta certeza do que isso significava para mim, para nós, mas porque isso não importava. Disse que te amo porque me percebi subitamente no terreno do amor; eu me percebi simplesmente ultrapassando a fronteira da respiração.
Eu estava suspirando, e isso era o amor pra mim.
É o que importa: não a palavra, mas suas asas.
Ora, ainda assim, duvide: você é atéia para os melhores deuses.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Coração Conexão Saudade

Como pode sentir falta do que nunca viu?
Saudade do beijo de manhã antes de escovar os dentes
Em bits bate
Em beats pulsa
Em bits luta

Dados codificados pela distância
Cavalo de Tróia, infecção geral
Você grita. Eu não escuto.
Você chega. Eu não toco.
O hálito em bluetooth
O abraço em wifi

Você chama, eu suo
Em simbiose virtual sabe do sumo
Conexão estável
Coesão sem coerência
Na carne bate
Em sangue pulsa
Em desejo luta

Esse coração mais metido a inventador

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Recado pro gatinho

Sinto falta do tempero, da comida e da cerveja. De você, sinto saudade. E não vem com esse de que você não aguentaria optar pela distância como eu. A gente se surpreende com a vida, gatinho. Eu achava muita coisa que acabei desachando. Você me chama de chato e eu te acho o máximo. Sou chato pra caralho. Mas sou chato de um gatinho só. Beijo no horizonte pra quem se gosta e tá longe.

domingo, 20 de janeiro de 2013

Emails

T:
Fala de você.
Ou do meu sutiã.

B:
O sutiã está aqui, dentro da sacola em que o coloquei. Imóvel e obediente, como é próprio dos sutiãs.

Eu, por minha vez, não sou imóvel, menos ainda obediente. Falo pelos cotovelos, durmo na hora errada, faço sexo de madrugada e tenho sono por todos os poros.

Tentando dar conta do mundo racional, aquele que exige provas, horários, entrada-saída, dias contados, horas infindas. Depois ensaio de férias, chatice de natal (ainda bem que tenho um monte de amigos comunistas que adoram criticar isso...me sinto melhor assim).

Agora correndo pra tomar banho/lavar cabelo/secar cabelo/ torcer pra não ter insônia às 2 da manhã, pois trabalho às 7.

E vc?

Saudade!

T:

Eu tenho sexo pelos poros e sono pela madrugada, mas estou aqui - em
horas infindas - imóvel e obediente, como é próprio dos dias contados.

Falo por minha vez, às vezes na hora errada, mas tenho cotovelos
obedientes, que tentam dar conta do mundo racional. (Não doem).

Depois da chatice, ensaio de entradas-saídas, aquele que fala por
todos os poros e exige provas de horas infindas e sutiãs obedientes e insônia depois e agora, correndo;

Torcer seu cabelo, pra não ter mais sutiã às 2 da manhã.

A saudade está aqui, dentro da sacola em que a coloquei.